Foi muito estranho, e aquela sensação que eu sentia era
profundamente mórbida algo como um medo de alguma coisa, só que,
controversamente esse medo vinha acompanhado de uma curiosidade. Medo e
curiosidade, mas queria ver o que era e como era.
De repente me vi
em um edifício, mas especificamente no interior dele, bem no centro. Do ângulo
em que me localizava eu me encontrava após uma porta, pelo lado de dentro pelo
que pude perceber.
A sensação
estranha continuava lá, me impelindo e ao mesmo tempo me atraindo, por querer estar
e não estar ali. Uma voz forte e sinistra falou de dentro de mim, como se fosse
de dentro de meu subconsciente direto para meu cociente, que se, eu fechasse
aquela porta e me afastasse o suficiente, quando eu desse os mesmos passos de
volta e abrisse a porta, o outro lado não seria mais o outro lado.
A voz me
parecia muito convincente, mas meu impulso foi mais forte, fechei a porta,
caminhei três passos para traz e parei. No exato momento em que parei me
localizava bem no centro entre paredes daquele lugar, em seguida alguma coisa
atrás de mim arrebatou meu sexto sentido, olhei e o que vi foi uma escadaria,
mas ela não estava lá antes pelo que eu lembrava.
Uma escadaria com
degraus infinitos, tanto para baixo quanto para cima, essa escadaria era
seguida por lances, lances de escadas. Inclinei-me, olhei para cima e depois
para baixo, fiquei lá olhando por alguns segundos, percebi que a forma espiral
daquela escada formava uma geometria fractal, (ver geometria fractal).
Achei incrível,
até por que nos últimos tempos eu vinha lendo sobre esse assunto, e para mim
isso fazia todo sentido.
Susto...! De repente um homem cruzou comigo, ele vinha vindo
descendo aqueles degraus, passou por mim calado e com a face enrijecida, em
seguida outro homem também passou, mas esse me pareceu estar de bem, me olhou e
anuiu simpaticamente sua cabeça. Os dois homens foram descendo e descendo, o
que eu achei interessante, mas que me deixou mais pensativo do que eu já
estava, era que suas vestes pareciam datar do século dezoito.
Mas bem, depois
de observar essas coisas me lembrei que precisava voltar, abrir a porta e sair
dali, eu tinha que fazer isso mesmo não me lembrando de ter estado lá fora,
tinha que fazer porque deduzi que, mesmo não me lembrando quando ou o por que
estava ali, eu deveria voltar e sair.
Foi o que fiz,
caminhei os mesmos passos de volta até aporta, levei a mão ao trinco, girei e
abri. Quando sai, mesmo não tendo me lembrado de quando, que horas ou por que
estive lá fora, vi que estava tudo em seu devido lugar.
As cadeiras de
espera em um canto na parede, um balcão de informação vazio, as lâmpadas postas
em sequência no teto, o ventilador pregado na parede do meu lado direito, o
corredor grande com portas do lado e do outro, tudo parecia aparentemente
normal, parecia...
Porém, algo no ar
estava errado, no momento que sai, visualizei tudo e em seguida respirei, senti
no próprio ar que tinha alguma coisa intrinsecamente diferente, algo que meus
olhos carnais não conseguiam enxergar, mas meu sexto sentido me dizia que não
estava certo, como se tudo ali não tivesse sido daquele jeito.
Me senti
inevitavelmente perturbado, de uma forma como se algo oculto ou invisível
estivesse injetando de fora ou de algum lugar aquela perturbação direto para
minha alma. Rapidamente retornei para dentro de novo, lá dentro também,
visualmente nada havia mudado, mas fui tomado pela mesma sensação de quando
estive lá fora, lá dentro já não era mais a mesma coisa, alguma coisa no ar, no
próprio éter havia mudado.
Senti uma
profunda sensação de solidão e de estar perdido, desgarrado do mundo normal e
pior, desgarrado de minha própria lucidez. O estranho era que até então eu não
tinha focado bem as paredes, apenas tinha percebido elas lá, mas não as tinha
fitado ainda, olhado bem perto.
No desespero,
resolvi descer aquelas escadas, não sei por que fiz aquilo se por mais que me
esforçasse não era capaz de enxergar o fim dela. Enquanto ia descendo cruzava com mais pessoas
que desciam e subiam, pessoas caladas, meio que pensativas ou introspectivas
unas bem afeiçoadas e outras de faces obscurecidas.
E lá ia eu
descendo e descendo, lance por lance daquela escada, me senti cansado, física e
psicologicamente, parei, apoiei minha mão em unas das paredes para descansar
foi só ai que percebi que ainda não tinha visualizado bem as paredes. Então
olhei, só que quando a fitei bem de perto, percebi que elas não sustentavam sua
forma, não tinha uma consistência em si, ficavam oscilando como se fosse um
espelho de água ao vento, só que em pé, posto ali como parede.
Isso fez como que
eu quisesse descer as escadas mais rápido, e quanto mais rápido eu caminhava e
ao mesmo tempo olhava para as paredes elas ondulavam. Eu estava assustado, e
quis parar, foi quando percebi que eu não estava ficando cansado do físico, ma
sim da mente, era um tipo de pressão continua.
Descendo e
descendo estava eu, quando de repente a voz falou de novo:
--- (“...)”
Cuidado, nem todos são pessoas, mas mantenha-se centrado, convença-os de que
você esta convencido de que são.
Naquelas alturas eu já tinha certeza que não estava na
realidade normal, aquele surrealismo me convenceu por total que eu estava em
uma situação incomum do ponto de vista humano. Eu obedeci a voz, comecei a
caminhar com mais segurança no fardo e nos passos, tentei não demonstrar em
minha face o desconforto de minha mente.
Descendo e
descendo, olhando para fundo, desejando enxergar ao menos um sinal de chão, uma
luz, o fim em fim e nada, e quando eu estava quase perdendo o controle a voz
interveio:
--- (...) “Não
pare, continue, eleve seu espírito, confie em você mesmo, determine que você é
capaz e simplesmente acredite.”
Obedeci prontamente o conselho, continuei
caminhado, seguindo todos os conselhos que a voz me deu, descendo e
acreditando, olhando para frente e objetivando o fim, e foi incrível. Na medida
em que eu ia fazendo isso, a minha frente pareceria que o espaço ia
comprimindo-se de lá para cá, em meus próprios sentidos eu era capaz de sentir
a distancia se encurtando, quando pensei que não, fim. Cheguei em “terra
firme”.
Ao chegar, o que
pude ver foi um pequeno salão vermelho, isso mesmo, vermelho, teto, paredes,
chão, móveis tudo vermelho. Ao fundo havia uma banda tocando blues, do meu lado
esquerdo tinha um bar, até os copos e garrafa eram vermelhos também, no teto um
ventilar grande, com hélices entalhadas em madeira, rodopiando vagarosamente.
Outra estranheza
era que, era um pequeno salão de eventos ou algo do tipo, eu enxergava bem as
paredes dos quatro lados, mas na medida em que iam surgindo pessoas, que
passeavam de um lado para o outro, aquele lugar ia se enlarguessendo, e quanto
mais eu percebia aquele fenômeno e observando o movimento das paredes, elas iam
se afastando e se movendo irregularmente cada vez mais.
Comecei a curtir
o som da banda que estava tocando, até por que sou musico e blues para mim é
ritmo dos ritmos, a banda estava ao fundo, eu estava bem no meio do salão, no
momento em que concentrei minha audição para entender os arranjos dos
instrumentos me vi frente a frente com os músicos, fui transportado para perto
deles.
Os músicos
tocavam alegremente e envolvidos ao ritmo, me olhavam e anuíam a cabeça
positivamente, só que ao fitar os olhos do baixista e do baterista senti de
novo aquela sensação, comecei querer me apavorar novamente, senti que aquela
energia maligna que fluía das criaturas disfarçada de humanos naquele local era
mais forte.
Antes que eu
pudesse me alterar, de novo a voz amiga me acalmou:
--- (“...)”
Calma, não esqueça, quanto mais eles estiverem convencidos de que você esta
convencido você estará a salvo, controle-se”.
Consegui me
acalmar, fui até o bar e pedi um suco de melancia, sentei e fiquei no aguardo,
curtindo o blues, passado alguns minutos, o suco chegou, aos goles e
pensamentos me mantive sentado ao canto, indagando tudo aquilo.
A voz outra vez
veio para elucidar.
--- (...) Esse
edifício é uma dimensão, um tipo de dimensão que só se tem acesso em estado de
inconsciência, dormindo, ou em coma. As portas são vórtices temporais instáveis
que oscilavam de acordo com a presença de quem entram nelas, os eventos por
traz dessas portas chegam ao impensável, e isso varia de acordo com cada
individuo. A pessoa que estiver lá, ou vai ficar tranquila por que vai perceber
que é um sonho ou vai se convencer de que é uma coisa real e é ai que as
criaturas interdimensionais se dão bem, é disso que elas precisam para manterem
as condições desse mundo, é dessas condições que elas se alimentam.
“interessante”.
Pensei comigo. Mas a grande questão era se eu iria sair dali?
A voz me disse
que sim, mas não iria ser fácil, eu precisaria alcança o nível pré ultimo de
concentração, seria um nível de equilíbrio entre a normalidade e
paranormalidade, um alto nível energização espiritual, alto patamar de
concentração psíquica fazendo ser gerada um alto cumulo de força interior. Por
fim isso deveria ser unido à força da energia psíquica focada do desejo naquilo
que se quer.
Comecei a
exercitar, foi difícil, enlouquecedor, mas foi bom, por que na medida em que
fui ficando prático em consequência disso as coisas em volta foram ficando mais
claras, tanto visualmente quanto nos sentidos.
A partir daí
aquela sensação mórbida que me perseguia foi amenizando, ao mesmo tempo em que
eu ia me tornando cada vez mais capacitado e com destreza nas situações, diante
dos acontecimentos esquisitos que se sucediam vórtice após vórtice.
Às vezes parecia
que eu estava ali apenas há cinco minutos, e às vezes parecia que dias já
haviam se passado anos, mas isso não importava, eu estava cada vez mais forte
na alma e objetivado na mente, quando percebi que aquela sensação mórbida tinha
me abandonado de vez, quando eu senti que estava confiante o suficiente dei
inicio ao passo final de minha libertação.
A passos firme
caminhei toda a vida em frente, entrava em uma porta e saia em um corredor, ia
até o fim do corredor e aparecia nas escadas, descendo, ao descer de repente me
via subindo, subindo me via de novo no salão, caminhando pelo salão me via em
outro lugar, e outro e outro. Visualizando sempre a diante, qualquer variação
de pensamento ou sentimento significaria algum lugar diferente que não fosse o
do meu objetivo.
Caminhado e
pensando, aprendendo e descobrindo as formas e armas contra o mundo
aprisionador, tive uma intuição, após tela pus prontamente em prática. Comecei
focar aquela porta que havia adentrado no inicio de tudo e desencadeado aquilo,
a primeira porta, e a imagem na minha frente foi se destorcendo e me levando a
ela, aos poucos lá na frente ela veio surgindo e surgindo até que me vi frente
a frente, procurei não me emocionar de forma alguma, para não perder o
controle.
Levei a mão ao
trinco, e girei, enquanto girava vagarosamente concentrei mina mente em estar
fora dali, abri a porta, fui após ela e me vi em um corredor com portas do lado
e do outro como tantos outros. Seguindo a intuição não entrei em nem uma outra
porta, em vez disso comecei a andar pelo corredor, sempre a frente, pensando e
almejando o lugar em que mais alegraria minha alma, o lugar que realmente meu
intimo desejaria estar.
Objetivado e em passos firmes lá ia eu, quando as paredes
começaram a tremular, perder suas formas e consistências, eu sabia que aquilo
era alguma armadilha das criaturas interdimensionais, para desviar a atenção de
quem quisesse escapar daquele pesadelo. Pensei em correr, mas não o fiz,
respirei fundo e ousadamente, fechei meus olhos e firmei mais ainda meus
passos, pensando e desejando aonde eu queria estar, quando abri os olhos...
Ufa! Acordei.
Ainda bem que foi só um sonho, mas quer saber? Tenho duvida que tenha sido só
um pesado mesmo, mas para todos os efeitos, caso eu volte para lá, já sei como
escapar, e se fosse vocês ficariam de olhos bem abertos, às vezes é melhor não
dormir.