Foi inesperado, mas bem que já
deveria saber que nada na vida é tão perfeito, ou é, vai saber...
Até aquele
momento estava “tudo bem”, minha alma segura de que o amor era uma certeza,
porém de repente uma mensagem no meu celular, apenas uma mensagem “simples” e
objetiva, me destruiu:
---... Acabou...!
Na hora em
que li a mensagem não entendi direito, mas quando observei de quem era o numero
meu fardo decaiu, fiquei atônito e desacreditado, na mesma hora tentei retornar
e nada, só dava caixa de mensagem.
Tive que respirar,
tentei ser firme até porque eu estava na rua á caminho de casa, como era
domingo e eu estava indo do centro sentido bairro, quase não havia transito nem
pessoas nos ônibus. Tanto que o ônibus que eu paguei só tinha o motorista e o
cobrador, eu entrei e me sentei em um dos últimos assentos e fiquei lá
pensativo, compenetrado, desacreditado sobre o que tinha acabado de acontecer.
Depois de
alguns minutos percebi que o ônibus estava parando em um ponto logo à frente, alguém
iria entrar, o ônibus parou, abriu as portas e ela entrou. Inevitavelmente eu a
observei, ela estava séria, pagou a passagem, passou pela catraca e veio
caminhando, sentou num acento a frente do meu. Percebi algo estranho, ela
estava chorando e com tanto soluço vindo dela eu até acabei me desconcentrando
da minha angustia, me senti profundamente incomodado com suas lágrimas, tive
que perguntar se ela estava bem.
--- Não, não
estou bem...!
Respondeu ela,
eu não sabia se deveria continuar, até porque aquele dia já estava dando errado
de mais para mim, mesmo assim novamente a indaguei:
--- Desculpe
moça, mas aconteceu alguma coisa com você?
Ela, parou,
respirou fundo, tentou secar as lágrimas com as mãos, olhou para mim com olhos
inchados e vermelhos e me disse:
---- Fui traída,
enganada e abandonada!
Eu já não estava
bem, e acabei ficando pior com o que ela acabara de me dizer, o pior era que
naquele momento eu não tinha consolo nem para mim quanto mais para ela, então
disse a única coisa que me veio na cabeça.
--- Bom, moça,
eu acho que sei o que você esta sentindo, minutos atrás eu recebi uma mensagem
no meu celular de minha namorada, quer dizer, agora ex, namorada, dizendo que
acabou.
Ao ouvir isso
percebi que ela meio que se distraiu um pouco, então começamos a conversar,
enquanto falávamos ela me olha bem nos olhos e eu bem nos olhos dela, nossa,
seus olhos eram grandes e negros como a vastidão do universo e expressivos como
uma poesia de amor. Seus lábios eram
maravilhosamente proporcionais, e mesmo sua face estando evidentemente abatida
ela era linda. Dada a nossa situação e nosso estado emocional naturalmente a
conversa acabou por nos envolver em um ar inflamado, um tanto romantizado, quando
me dei por mim minhas mãos tinham envolvido as mãos dela.
Não sei se porque
ela estava muito desapercebida devido seu estado emocional ou foi simplesmente
porque ela havia permitido mesmo, ela não tirou suas mãos das minhas, estávamos
mergulhados em nossas palavras, como se já nos conhecêssemos.
Era quase
noite, e já que eu não tinha nada a perder e imaginava eu que ela também não ousei
convida-la para descermos e irmos há algum lugar, ela prontamente aceitou,
demos sinal e descemos. Ali perto havia alguns bares e restaurantes, nos
encaminhamos para um deles, nos sentamos, aproximou-se um garçom e nos deu o cardápio,
pedimos apenas duas águas e ficamos por ali.
Dizem que
nunca se deve agir por emoção, eu mesmo já tinha dito isso muitas vezes, porém
naquela tardinha a emoção, desespero ou o que quer que estivéssemos sentido, no
meio de tantas palavras sem que percebêssemos nossos lábios desligaram um no
outro, um beijo aconteceu. Meu Deus, o que foi aquilo? Aquele beijo fez arder minha
alma em chamas e ao mesmo tempo me trouxe uma paz que eu nunca havia sentido,
ao passo que nossos lábios iam se saciando um do outro e nossas línguas desdenhado
uma a outra nós perdíamos a noção do que estava acontecendo ali.
Quando paramos
de nos beijar palavra alguma foi dita, apenas nossos olhares falavam, diziam
coisas tão profundas que palavras não podiam expressar jamais. A noite estava
as portas e precisávamos nos despedir, só que não estávamos conseguindo fazer
isso, foi quando eu perguntei:
--- Você quer
que eu te leve na sua casa?
Com uma voz
terna e suave ela me respondeu:
--- Sim, se
não for incomodar. --- Jamais. Eu respondi.
Ao chegarmos
a sua casa ela tocou a campanhinha, uma senhora muito simpática de aparência muito
favorável foi até portão, abriu, perguntou se ela estava bem e deu as costas. Ela
então perguntou se eu gostaria de entrar um pouco, eu mesmo sem jeito aceitei,
até achei um tanto irresponsável da parte dela, me convidando mesmo sem me
conhecer, mas acabei aceitando o convite.
Ela me apresentou
a seus pais e em seguida nos encaminhando para a varanda de seu quarto, fiquei
realmente intrigado com o fato de seus pais não terem questionado quem ou o que
eu era dela, mais ainda pelo fato de eu subir até seus aposentos sem ela dar
mais esclarecimentos a eles.
Aconteceu que
horas se passaram tão rápido que quando fomos ver já eram duas horas da
madrugada e já não tinha mais ônibus para eu voltar, foi o jeito, tive que
esperar até às quatro e meia da manhã até que os ônibus começassem a rodar. Pois
bem, isso eram duas horas da manha e até às quatro e meia muita coisa iria
acontecer, e aconteceu.
Pura loucura,
tanto minha quanto dela, nos entregarmos assim tão irresponsavelmente ao acaso,
e nas horas que iam se passando tanto que conversamos, admitimos nossas angústias
de estranho para estranho sem qualquer receio, sem o mínimo medo que fosse, estávamos
tomados de sensações inexplicáveis, e na real, isso não era uma coisa que
estava nos incomodando. Apesar de há
poucas horas atrás termos sidos deixados por quem nos jurava amores e, no
entanto nos tomou de volta o amor que nunca nos tinham dado de fato, não
falamos sobre eles, apenas falamos de nossas fantasias, fomos simplesmente um
diante do outro quem éramos em nossos segredos, nos despimos de nossas mascaras
e nos mostramos um para o outro em nossos afetos e devaneios.
Outro sublime momento nos inundou e aos beijos
e caricias submergimos um no outro, não houve temperança, não houve racionalidade
nem lógica, era apenas o mar daquele momento que se fazia verdade, se fazia
sentido. Foi impossível que não houvesse unidade em fim, naquela doce
madrugada, e no momento em que nos fazíamos um o menos importante era o que
nossos corpos sentiam, sim, porque nossas almas, nossos espíritos explodiam no
desejo de um querendo fazer bem ao outro, e foi o que houve.
Foi dado o ápice,
no momento em que ela foi embriagada pelo fenômeno magistral, eu ao perceber
todo aquele poder emergindo em seu rosto fatalmente cheguei ao paraíso, nossa, inexplicável,
nunca pensei que uma grandeza daquelas pudesse ser possível. Depois de todas
essas coisas continuamos ali abraçados, conversando, dando acesso um aos mundos
do outro, que daquele dia em diante seria um só mundo.
Adormecemos,
foi tão natural que nem percebemos o momento em que nossos olhos se fecharam e
todo o resto do planeta perdeu a importância para nós, no dia seguinte ao
despertarmos ainda custamos a acreditar em toda aquela perfeição, foi quando um
doce beijo de bom dia nos trouxe novamente a realidade.
Levantamos-nos,
não tinha ninguém em casa, seus pais tinham ido visitar um parente que moravam
no interior segundo me disse ela, estávamos só nós dois, então como que
conhecidos a muito tempo, entre descontrações e sorrisos fizemos juntos o café
da manha, nos alimentados e em seguida tomamos banho juntos.
Enquanto a água
quente e aconchegante caia sobre nós, permanecíamos ali abraçados em silencio,
foi quando percebi ela soluçar, eu me afastei um pouco ainda abraçado a ela e a
toquei carinhosamente no rosto. Eu nada disse, simplesmente nada consegui falar
e comecei a chorar junto com ela, as lágrimas que escorriam de nossos olhos e
se misturavam a água eram tão mais quentes. Aquele clima, aquele momento tão
puro e santo que todo nosso sofrimento foi sanado, era como se não tivesse havido
um passado, era como se a vida tivesse começado naquele exato momento, ela
olhando nos meus olhos, com lagrimas e voz profundamente embargada me pediu:
--- Não me deixe nunca.
Completamente emotivo
respondi que jamais a deixaria, que a forma como tudo aquilo tinha acontecido,
a naturalidade e fatalidade de como nos encontramos foi a confirmação do
próprio universo a nossa união. Dali em diante o desamor, a inverdade e mentira
do mundo nunca mais foi capaz de nos separar e nada, absolutamente nada foi
maior que nosso amor.