sexta-feira, 17 de março de 2017

De repente se eternizou

     

 Foi inesperado, mas bem que já deveria saber que nada na vida é tão perfeito, ou é, vai saber...
      Até aquele momento estava “tudo bem”, minha alma segura de que o amor era uma certeza, porém de repente uma mensagem no meu celular, apenas uma mensagem “simples” e objetiva, me destruiu:

      ---...  Acabou...!

      Na hora em que li a mensagem não entendi direito, mas quando observei de quem era o numero meu fardo decaiu, fiquei atônito e desacreditado, na mesma hora tentei retornar e nada, só dava caixa de mensagem.
      Tive que respirar, tentei ser firme até porque eu estava na rua á caminho de casa, como era domingo e eu estava indo do centro sentido bairro, quase não havia transito nem pessoas nos ônibus. Tanto que o ônibus que eu paguei só tinha o motorista e o cobrador, eu entrei e me sentei em um dos últimos assentos e fiquei lá pensativo, compenetrado, desacreditado sobre o que tinha acabado de acontecer.
     
      Depois de alguns minutos percebi que o ônibus estava parando em um ponto logo à frente, alguém iria entrar, o ônibus parou, abriu as portas e ela entrou. Inevitavelmente eu a observei, ela estava séria, pagou a passagem, passou pela catraca e veio caminhando, sentou num acento a frente do meu. Percebi algo estranho, ela estava chorando e com tanto soluço vindo dela eu até acabei me desconcentrando da minha angustia, me senti profundamente incomodado com suas lágrimas, tive que perguntar se ela estava bem.

      --- Não, não estou bem...!

     Respondeu ela, eu não sabia se deveria continuar, até porque aquele dia já estava dando errado de mais para mim, mesmo assim novamente a indaguei:
 
      --- Desculpe moça, mas aconteceu alguma coisa com você?

     Ela, parou, respirou fundo, tentou secar as lágrimas com as mãos, olhou para mim com olhos inchados e vermelhos e me disse:

      ---- Fui traída, enganada e abandonada!

      Eu já não estava bem, e acabei ficando pior com o que ela acabara de me dizer, o pior era que naquele momento eu não tinha consolo nem para mim quanto mais para ela, então disse a única coisa que me veio na cabeça.

      --- Bom, moça, eu acho que sei o que você esta sentindo, minutos atrás eu recebi uma mensagem no meu celular de minha namorada, quer dizer, agora ex, namorada, dizendo que acabou.  

      Ao ouvir isso percebi que ela meio que se distraiu um pouco, então começamos a conversar, enquanto falávamos ela me olha bem nos olhos e eu bem nos olhos dela, nossa, seus olhos eram grandes e negros como a vastidão do universo e expressivos como uma poesia de amor.  Seus lábios eram maravilhosamente proporcionais, e mesmo sua face estando evidentemente abatida ela era linda. Dada a nossa situação e nosso estado emocional naturalmente a conversa acabou por nos envolver em um ar inflamado, um tanto romantizado, quando me dei por mim minhas mãos tinham envolvido as  mãos dela.

      Não sei se porque ela estava muito desapercebida devido seu estado emocional ou foi simplesmente porque ela havia permitido mesmo, ela não tirou suas mãos das minhas, estávamos mergulhados em nossas palavras, como se já nos conhecêssemos.
      Era quase noite, e já que eu não tinha nada a perder e imaginava eu que ela também não ousei convida-la para descermos e irmos há algum lugar, ela prontamente aceitou, demos sinal e descemos. Ali perto havia alguns bares e restaurantes, nos encaminhamos para um deles, nos sentamos, aproximou-se um garçom e nos deu o cardápio, pedimos apenas duas águas e ficamos por ali.
     
      Dizem que nunca se deve agir por emoção, eu mesmo já tinha dito isso muitas vezes, porém naquela tardinha a emoção, desespero ou o que quer que estivéssemos sentido, no meio de tantas palavras sem que percebêssemos nossos lábios desligaram um no outro, um beijo aconteceu. Meu Deus, o que foi aquilo? Aquele beijo fez arder minha alma em chamas e ao mesmo tempo me trouxe uma paz que eu nunca havia sentido, ao passo que nossos lábios iam se saciando um do outro e nossas línguas desdenhado uma a outra nós perdíamos a noção do que estava acontecendo ali.

     Quando paramos de nos beijar palavra alguma foi dita, apenas nossos olhares falavam, diziam coisas tão profundas que palavras não podiam expressar jamais. A noite estava as portas e precisávamos nos despedir, só que não estávamos conseguindo fazer isso, foi quando eu perguntei:

      --- Você quer que eu te leve na sua casa?

      Com uma voz terna e suave ela me respondeu:

      --- Sim, se não for incomodar. --- Jamais. Eu respondi.

      Ao chegarmos a sua casa ela tocou a campanhinha, uma senhora muito simpática de aparência muito favorável foi até portão, abriu, perguntou se ela estava bem e deu as costas. Ela então perguntou se eu gostaria de entrar um pouco, eu mesmo sem jeito aceitei, até achei um tanto irresponsável da parte dela, me convidando mesmo sem me conhecer, mas acabei aceitando o convite.
      Ela me apresentou a seus pais e em seguida nos encaminhando para a varanda de seu quarto, fiquei realmente intrigado com o fato de seus pais não terem questionado quem ou o que eu era dela, mais ainda pelo fato de eu subir até seus aposentos sem ela dar mais esclarecimentos a eles.
     
        Aconteceu que horas se passaram tão rápido que quando fomos ver já eram duas horas da madrugada e já não tinha mais ônibus para eu voltar, foi o jeito, tive que esperar até às quatro e meia da manhã até que os ônibus começassem a rodar. Pois bem, isso eram duas horas da manha e até às quatro e meia muita coisa iria acontecer, e aconteceu.

       Pura loucura, tanto minha quanto dela, nos entregarmos assim tão irresponsavelmente ao acaso, e nas horas que iam se passando tanto que conversamos, admitimos nossas angústias de estranho para estranho sem qualquer receio, sem o mínimo medo que fosse, estávamos tomados de sensações inexplicáveis, e na real, isso não era uma coisa que estava nos incomodando.  Apesar de há poucas horas atrás termos sidos deixados por quem nos jurava amores e, no entanto nos tomou de volta o amor que nunca nos tinham dado de fato, não falamos sobre eles, apenas falamos de nossas fantasias, fomos simplesmente um diante do outro quem éramos em nossos segredos, nos despimos de nossas mascaras e nos mostramos um para o outro em nossos afetos e devaneios.

      Outro sublime momento nos inundou e aos beijos e caricias submergimos um no outro, não houve temperança, não houve racionalidade nem lógica, era apenas o mar daquele momento que se fazia verdade, se fazia sentido. Foi impossível que não houvesse unidade em fim, naquela doce madrugada, e no momento em que nos fazíamos um o menos importante era o que nossos corpos sentiam, sim, porque nossas almas, nossos espíritos explodiam no desejo de um querendo fazer bem ao outro, e foi o que houve.

       Foi dado o ápice, no momento em que ela foi embriagada pelo fenômeno magistral, eu ao perceber todo aquele poder emergindo em seu rosto fatalmente cheguei ao paraíso, nossa, inexplicável, nunca pensei que uma grandeza daquelas pudesse ser possível. Depois de todas essas coisas continuamos ali abraçados, conversando, dando acesso um aos mundos do outro, que daquele dia em diante seria um só mundo.

       Adormecemos, foi tão natural que nem percebemos o momento em que nossos olhos se fecharam e todo o resto do planeta perdeu a importância para nós, no dia seguinte ao despertarmos ainda custamos a acreditar em toda aquela perfeição, foi quando um doce beijo de bom dia nos trouxe novamente a realidade.
       Levantamos-nos, não tinha ninguém em casa, seus pais tinham ido visitar um parente que moravam no interior segundo me disse ela, estávamos só nós dois, então como que conhecidos a muito tempo, entre descontrações e sorrisos fizemos juntos o café da manha, nos alimentados e em seguida tomamos banho juntos.
    Enquanto a água quente e aconchegante caia sobre nós, permanecíamos ali abraçados em silencio, foi quando percebi ela soluçar, eu me afastei um pouco ainda abraçado a ela e a toquei carinhosamente no rosto. Eu nada disse, simplesmente nada consegui falar e comecei a chorar junto com ela, as lágrimas que escorriam de nossos olhos e se misturavam a água eram tão mais quentes. Aquele clima, aquele momento tão puro e santo que todo nosso sofrimento foi sanado, era como se não tivesse havido um passado, era como se a vida tivesse começado naquele exato momento, ela olhando nos meus olhos, com lagrimas e voz profundamente embargada me pediu:

      --- Não me deixe nunca.                                      

    Completamente emotivo respondi que jamais a deixaria, que a forma como tudo aquilo tinha acontecido, a naturalidade e fatalidade de como nos encontramos foi a confirmação do próprio universo a nossa união. Dali em diante o desamor, a inverdade e mentira do mundo nunca mais foi capaz de nos separar e nada, absolutamente nada foi maior que nosso amor.  

  Sóstenes Nunes
               
     




   

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